quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A verdadeira "liberdade" de expressão na França

Mesmo antes dos ataques que aterrorizaram Paris durante três dias e deixaram um saldo de 17 mortos, além dos três militantes mortos pela polícia, Dieudonné era um provocador. Já havia sido acusado de antissemitismo e agora é acusado pela Promotoria de Paris por "apologia ao terrorismo".


O comentário de Dieudonné (posteriormente apagado) sugeriu que o humorista simpatizava com Amedy Coulibaly, acusado de ter matado uma policial um dia depois do massacre na revista Charlie Hebdo e de ter matado quatro pessoas durante um sequestro em um mercado judaico, no dia seguinte.
O governo francês afirmou que esse tipo de comentário incita o ódio e será combatido "com toda a força possível".

O humorista ganhou fama internacional em 2013, quando sua saudação nazista invertida (chamada "quenelle", que consiste em um braço estendido para baixo e a mão oposta repousada sobre ele) foi usada pelo jogador de futebol Nicolas Anelka para celebrar um gol.

No início de 2014, quase não houve um dia na França sem que o nome de Dieudonné aparecesse nos noticiários.

Acusações de antissemitismo

O famoso humorista havia provocado polêmica com sua apresentação O Muro, que autoridades proibiram em várias cidades do país por conter expressões que consideraram racistas e antissemitas.

A decisão, segundo especialistas, parecia ser a conclusão de uma série de ataques e contra-ataques judiciais. Em vídeos, o humorista aparecia falando sobre o locutor do programa matutino da rádio pública France Inter, Patrick Cohen, cujo sobrenome tem raízes judaicas.
"Você vê, se o vento muda de lado, eu não tenho certeza se ele teria tempo de fazer sua mala", diz Dieudonné, para acrescentar diante de uma plateia lotada em um teatro de Paris, "quando o escuto falar, Patrick Cohen, você vê...câmaras de gás...que pena!".
Era uma referência às câmaras de gás usadas pelos nazistas para exterminar judeus durante a Segunda Guerra Mundial. A frase provocou ira e indignação, e a direção da rádio processou o humorista.

O país "não pode tolerar o ódio contra os demais, o racismo, o antissemitismo, o negacionismo", disse Manuel Valls, na época ministro do Interior e hoje primeiro-ministro francês.
O Conselho de Estado, jurisdição administrativa mais importante da França, proibiu a apresentação em cidades como Nantes, Orléans e Tours, por "riscos de desordem pública".


Quem é Dieudonné? 
Dieudonné, 48, é francês de pai camaronês e trabalha como humorista há mais de 20 anos. Nem sempre foi visto como antissemita, pelo contrário: começou sua carreira em um dueto com o humorista Élie Semoun, e durante anos eles eram conhecidos por seu humor pungente e com estereótipos raciais.

Depois de se separar do companheiro, Dieudonné trilhou um caminho diferente. E, além de seguir com a carreira artística, entrou para a política, candidatando-se em eleições legislativas contra a extrema-direita da Frente Nacional.
Em 2005, Dieudonné foi condenado por classificar o Holocausto de "memória pornográfica". No total, a Justiça francesa o condenou sete vezes, entre outras coisas por "incitar o ódio".

Mas ele tem também muitos simpatizantes, que defendem que seus espetáculos são apenas obras de humor e que devem ser protegidos pela liberdade de expressão. Apesar das críticas - ou, talvez, por causa delas -, alguns de seus vídeos têm mais de 2 milhões de visualizações na internet. E o público lota seus shows.

Na cidade de Nantes, 6 mil pessoas haviam comprado ingresso para assisti-lo e, quando souberam que o espetáculo havia sido cancelado pelas autoridades, alguns manifestaram seu apoio com o polêmico gesto da saudação nazista invertida.

Apesar de seu significado real ser pouco conhecido, alguns o associam a uma saudação antissemita. Dieudonné acabou desistindo do espetáculo O Muro, ante a onda de indignação gerada, e isso reduziu a pressão de autoridades e tribunais.

O ministro Valls, ainda assim, disse que Dieudonné "não é um comediante", mas sim um "antissemita e racista".
E, enquanto se investiga sua suposta "apologia ao terrorismo", disse que que seguirá tentando proibir suas apresentações por serem "um risco à segurança pública".

Pimenta nos olhos dos outros é refresco!

Fonte
BBC

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