sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O Homem de ferro soviético

OBS;
Autocirurgia é extremamente desaconselhável,aqui é relatado um dos poucos casos existentes,e bem sucedido.(feito por foça maior,já que se passar na Antártida,onde o socorro na maioria do ano,não existe).

O navio OB deixou Leningrado em 5 de novembro de 1960 em direção à Antártica com a missão de construir uma nova base no continente gelado. Foram 36 dias no mar e mais nove semanas de construção até que a base ficou pronta, em 18 de fevereiro de 1961. O inverno antártico já estava caindo quando o navio voltou à União Soviética, deixando para trás 12 residentes que ficariam no local durante um ano para estudar a região. Entre os membros da expedição, um médico: Leonid Rogozov.
Em 29 de abril de 1961, o cirurgião de 27 anos escreveu em seu diário que se sentia doente, com náuseas, fraqueza, mal-estar e, por fim, dor no abdome. Rogozov notou que estava com apendicite.
Os dias passavam e, fora da base, o clima só piorava. Dias viraram noites, tempestades de neve eram constantes. Era impossível um avião pousar. Enquanto isso, o médico usava antibióticos e colocava gelo no local da dor. Sem sucesso. Só havia um caminho: a cirurgia. E Rogozov era o único cirurgião no local.

Dois cientistas esterilizaram a sala e os equipamentos. Os móveis foram retirados, com exceção de uma cama, duas mesas e uma lâmpada. Rogozov selecionou o meteorologista Alexandr Artemev, o mecânico Zinovy Teplinsky e o diretor da estação, Vladislav Gerbovich, para participar do procedimento. Ele os treinou para a cirurgia, deixando uma seringa preparada para reanimá-lo caso desmaiasse durante a operação.
Rogozov então preparou a cama. Ele escolheu uma posição reclinada, com a cama elevada a um ângulo de 30°. O cirurgião escolheu não usar luvas, pois previu que o tato seria necessário para sentir o próprio corpo anestesiado.Às 2h15 da madrugada de 1º de maio de 1961, Leonid Rogozov fez um corte de aproximadamente 10 cm no próprio abdome. A visibilidade não era considerada ideal e ele tinha, às vezes, que levantar a própria cabeça ou usar um espelho para ver o apêndice. Após 30 minutos, ele começou a sentir vertigem. Então, após aproximadamente 40 minutos, ele retirou o apêndice infeccionado e aplicou antibióticos no local. A cirurgia toda durou cerca de uma hora e 45 minutos.

Gerbovich escreveu no seu diário que, "quando Rogozov fez a incisão e estava manipulando as próprias entranhas, assim como quando ele removeu o apêndice, seu intestino gorgolejou. (...) Deu vontade de se afastar, fugir, não olhar. Mas eu mantive minha cabeça firme e fiquei. Artemev e Teplinsky também ficaram nos seus lugares. (...) O próprio Rogozov estava calmo e focado no trabalho, mas o suor escorria pelo seu rosto."
Em seu diário, Rogozov também comentou a cirurgia: "Eu não me permiti pensar em outra coisa senão na tarefa em minhas mãos. Foi necessário me transformar em aço. (...) Finalmente, aqui está, o apêndice amaldiçoado! Com horror eu observo a mancha escura em sua base. Isso significa que apenas um dia a mais e iria estourar e... No pior momento da remoção do apêndice eu notei: meu coração deu um pulo e visivelmente diminuiu; senti minhas mãos como borracha. Bem, pensei, isso vai acabar mal."

O que aconteceu após a operação? Rogozov morreu... quase 40 anos depois, em 21 de setembro de 2000. O homem de ferro soviético deixou a estação de Novolazarevskaya mais de um ano depois de retirar o próprio apêndice, em 29 de maio de 1962. O relato sobre o caso, inclusive com trechos dos diários dos envolvidos, foi feito pelo filho do cirurgião, Vladislav Rogozov, professor de medicina da Universidade de Sheffield (Reino Unido), e Neil Bermel, professor de estudos russos na mesma universidade, no jornal especializado BMJ (British Medical Journal).

Fonte;
Terra

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