segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Avião que Desapareceu nos Andes em 2 de Agosto de 1947



Os picos gelados dos Andes eram um obstáculo de meter medo nos pioneiros da aviação civil da década de 40. Mesmo em um ex-piloto da Força Aérea britânica como Reginald Cook, dono de três medalhas conquistadas em mais de 90 expedições de bombardeio contra a Alemanha durante a Segunda Guerra. Na tarde do dia 2 de agosto de 1947, Cook partiu de Mendoza, na Argentina, com destino a Santiago, no Chile, pilotando o Stardust, um Avro Lancastrian, versão civil do melhor bombardeiro britânico, o Avro Lancaster.

Cook e os outros dez ocupantes do avião da British South American Airways deveriam pousar um pouco antes das 6 horas em Santiago. O último contato pelo rádio ocorreu às 5h40, quando o Stardust enfrentava uma tempestade sobre a cordilheira. O aparelho nunca chegou ao Chile. Dois dias depois, a Embaixada britânica em Santiago mandou um telegrama para Londres: "A causa do desastre pode não ser descoberta jamais e, à luz de outros acidentes nos Andes, o avião pode não ser encontrado durante muitos anos".

O embaixador britânico estava certo: nada mais se soube do Stardust nos 53 anos seguintes. A história começou a mudar, quando um grupo de argentinos topou com os destroços na encosta do Tupungato, um dos vulcões mais altos do mundo, perto da fronteira entre Argentina e Chile. A expedição, composta de dois civis e três soldados do 11o Regimento de Infantaria de Montanha do Exército argentino, foi organizada por insistência de José Moiso. Há dois anos, Moiso tinha ouvido de um colega montanhista de Buenos Aires um relato sobre a existência de pedaços de um avião no Tupungato. Como Moiso além de alpinista é aviador, ele conhecia a história do Stardust e convenceu-se de que estava na pista da aeronave. Com seu filho Alejo e os militares, iniciou a busca.

Os cinco homens seguiram com precisão a rota em que os destroços haviam sido avistados. Levaram dois dias apenas para chegar ao pé do Tupungato. Na quarta-feira 19, o grupo alcançou a metade dos 6.860 metros de altitude do vulcão e começou a encontrar pedaços do velho Stardust. Havia partes da fuselagem e peças do avião espalhadas por uma vasta área. Para Alejo Moiso e o sargento Raúl Armando Cardozo coube a descoberta mais dramática. Eles subiram mais do que os outros na encosta do vulcão e localizaram três corpos, conservados pelas temperaturas abaixo de zero. Havia também a mão de uma mulher.

A descoberta pode fornecer a pista para a solução de vários mistérios que cercam o vôo. Em primeiro lugar, não se conhecem as causas da queda. O capitão Cook tinha apenas 29 anos quando pilotou um avião pela última vez. Mas era um aviador experimentado na guerra e já havia atravessado os Andes várias vezes como co-piloto. No comando de um vôo sobre a cordilheira, aquele 2 de agosto foi sua estréia. Logo que decolou de Mendoza recebeu um informe de que havia uma tempestade em sua rota. Decidiu ir pelo caminho mais direto: sobrevoar o Tupungato e passar acima da tempestade, a 8 mil metros de altitude. O Lancastrian, como todos os aviões da época, não era pressurizado. Voando tão alto, era necessário usar máscaras de oxigênio para respirar. Para os integrantes da equipe que encontrou os destroços, a impressão é de que o Stardust se chocou contra o pico e explodiu. Os restos, que incluem um dos motores quase intacto, podem ajudar os especialistas a determinar as causas do acidente.

Há mais a investigar. Um dos ocupantes do avião era Paul Simpson. Ele era mensageiro do Reino Unido e levava uma pasta com documentos secretos da chancelaria britânica. A Argentina preocupava os ingleses. Juan Domingo Perón, eleito presidente no ano anterior, era tido como hostil aos britânicos, porque simpatizava com as potências do Eixo derrotadas na Segunda Guerra. O mistério sobre os documentos deve ser mais difícil de resolver. "Encontramos roupas, uma carteira pequena e uma valise vazia", disse Moiso. O montanhista não acredita que tenha havido saques nos destroços ao longo dos anos, como se supôs. Ele afirma que nenhum papel resistiria a 53 anos no gelo e à ação do vento no alto dos Andes. Uma equipe de investigação, sob autoridade da Justiça argentina, vai realizar buscas na área, mas é provável que os documentos permaneçam secretos para sempre.

O terceiro mistério não será esclarecido por nada que se possa encontrar nos Andes. Trata-se da última mensagem do Stardust. Ela foi recebida por navegadores do aeroporto do Chile que acompanhavam o avião britânico. Em código Morse, o operador de rádio Dennis Harmer enviou uma única palavra: STENDEC. Confusos, os chilenos pediram confirmação e a misteriosa palavra foi repetida duas vezes. Ninguém nunca soube o que significa.

Fonte;http://epoca.globo.com/edic/20000131/mundo2.htm

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